Epilepsia
O que é a epilepsia?
É uma doença crónica que afecta cerca de 1 em cada 200 indivíduos, o que pressupõe, para Portugal, uma prevalência entre 30 a 50 mil pessoas com epilepsia.
O termo epilepsia abarca, em geral, vários síndromas associados com diversos tipos de crises.
As crises focais começam com a activação de um pequeno número de neurónios, habitualmente num dos hemisférios cerebrais, a qual pode manter-se localizada ou estender-se secundariamente (generalizar-se) através de todo o cérebro. Pensa-se que as crises generalizadas são a consequência da activação dos neurónios de ambos os hemisférios cerebrais. Estas diferenças na origem das crises constituem a base do esquema de classificação das crises epilépticas da Liga Internacional Contra a Epilepsia (classificação inicial em 1981).
Considera-se como epilepsia o aparecimento de duas ou mais crises de início brusco e inesperado. Uma crise isolada não é epilepsia; assim, as crises surgidas no decurso de um processo agudo (febre, infecção, etc.) denominam-se de crises ocasionais e não constituem uma epilepsia.
Muita gente conhece a epilepsia como a doença na qual o paciente sofre de crises, causando-lhe quedas, convulsões incontroláveis, espuma da boca e perda de urina. Na Grécia Antiga acreditava-se que estas pessoas estavam possuídas pelo demónio. Daqui deriva a origem da palavra Epilepsia: é a designação Grega para "ser apanhado ou atacado". Em alemão era chamada a "doença das quedas". Uma designação inapropriada, pois nem todas as pessoas com epilepsia caiem durante uma crise. Do mesmo modo as convulsões e a libertação de saliva em espuma pela boca nem sempre estão presentes. Felizmente estes sintomas nem sempre são tão graves.
Claro que, durante uma crise (algumas vezes chamada de ataque epiléptico), o doente perde o controlo sobre várias funções corporais: alguns perdem o controlo sobre os músculos, outros sobre o pensamento ou sobre a bexiga. A causa é uma perturbação no cérebro.
O que é uma crise?
Uma crise epiléptica pode ser descrita como uma "tempestade repentina" no cérebro. Há uma falha temporária na rede de ligações entre as milhões de células cerebrais. Estas células cerebrais trocam informações continuamente. Normalmente isto ocorre de um modo maravilhosamente estruturado. No caso de pessoas com epilepsia, grandes grupos de células cerebrais começam a trocar informação umas com as outras ao mesmo tempo. Deste caos resulta uma crise epiléptica. Felizmente o cérebro é capaz de restaurar a ordem por si próprio - consequentemente a crise termina. Em algumas pessoas a crise pode demorar mais do que noutras.
Pode dizer-se que o cérebro de uma pessoa com epilepsia é mais susceptível que os das pessoas que não sofrem da doença. Entre as crises, o funcionamento do cérebro da pessoa com epilepsia é, habitualmente, tão normal como os das outras pessoas. Mesmo durante o EEG - que mede a actividade eléctrica do cérebro -não se encontra geralmente nada de alterado entre crises. Isto não quer dizer que o EEG não seja um método de diagnóstico valioso.
De facto, a pessoa com epilepsia só está doente quando tem uma crise. O propósito de qualquer medicação é minimizar tanto quanto possível o risco da ocorrência de crises. Em muitos doentes a medicação pode reduzir consideravelmente o risco de crises.
Uma pessoa é considerada como tendo epilepsia somente quando tem um mínimo de duas crises e estas surjam regularmente - mesmo que seja só uma vez por ano. Uma crise não conduz automaticamente ao diagnóstico de epilepsia. Assim, não se começa o tratamento se não se estiver seguro de surgir outra crise, pois os sintomas de outras doenças podem simular um ataque ou crise epiléptica.
A epilepsia tem todos os tamanhos e feitios
A epilepsia não é uma doença reactiva a uma causa específica. Na realidade é um conjunto de sintomas. As crises podem assumir uma enorme diversidade. Segue-se uma abordagem geral sobre este assunto.
Basicamente há dois tipos de crises:
- Crises originadas numa determinada zona do cérebro; os médicos designam-nas de focais ou de crises de início focal;
- Crises que se originam simultaneamente em todas as células cerebrais; são conhecidas como crises generalizadas. Uma importante característica destas é serem, habitualmente, acompanhadas por perda da consciência. No entanto, isto não significa que, invariavelmente, isto aconteça. Podem existir breves momentos de ausência, muitas vezes não percebidos pelos circunstantes. Este tipo de crise é também conhecido por "ausência". ;
Nas crianças a epilepsia pode desaparecer completamente. Muitas vezes, isto também é verdadeiro para os adultos mas, mesmo quando continuam a sofrer de epilepsia, a sua doença é geralmente controlada, de modo aceitável, com medicação.
Número e pessoas que sofrem de epilepsia
Calcula-se que há cerca de 50 milhões de pessoas com epilepsia no mundo. De um modo geral, 0,5 a 0,8% da população tem epilepsia. Comparativamente, cerca do mesmo número sofre de diabetes na Europa. Muitos tiveram a sua primeira crise entre os 10 e os 20 anos. Devido à epilepsia ser relativamente mais prevalente nas pessoas com atraso mental, muita gente pensa haver ligação entre epilepsia e inteligência. Não é o caso, embora seja verdade que a epilepsia grave atrasa ligeiramente o desenvolvimento da criança. Qualquer um pode ter epilepsia, especialmente se há antecendentes familiares. A epilepsia é igualmente comum nos dois sexos. Para muita gente afecta drasticamente a sua vida quotidiana.
O impacto na vida diária
Sofrer de epilepsia não é fácil. Mesmo os doentes que raramente sofrem de crises devem ter isto presente nas suas mentes. Devem evitar todas as actividades durante as quais uma crise pode ser perigosa tais como conduzir, andar de bicicleta, nadar, tomar banho, escalar montanhas, etc. A epilepsia também afecta outras dimensões importantes da vida tais como os relacionamentos, o trabalho e as actividades de lazer.
Alguns doentes pressentem, claramente, quando uma crise está para acontecer. Por exemplo, estão mais irritáveis, têm cefaleias, sentem-se tontos ou têm uma sensação esquisita no estômago. A isto chama-se aura.
Para muitos, a crise surge sem qualquer aviso. A gravidade da crise varia de pessoa para pessoa. Nalguns a crise raramente é óbvia, noutros necessita de hospitalização.
Diagnóstico
O passo mais importante para se realizar um diagnóstico correcto de epilepsia é uma história clínica minuciosa. Não só é importante para se estabelecer o diagnóstico correcto da epilepsia, como também para identificar concretamente o seu tipo e, em alguns casos, a sua origem.
Quando se recolhe uma história clínica devem ter-se em conta os seguintes pontos: As circunstâncias de aparecimento das crises (emoções, esforços, sem causa aparente, etc.), relação com o ritmo sono-vigília (se as crises se produzem durante o dia ou a noite, ao despertar, etc.), a existência de aura ou sensação prévia de que algo vai acontecer, a consciência durante as crises, a duração das crises e se há recuperação total da consciência após as crises, etc.
É importante completar a história clínica com a história familiar, no sentido de se comprovar se existem antecedentes familiares de crises análogas ou de outras características.
Seguidamente faz-se o exame físico do doente dando especial relevância ao exame neurológico.
Uma vez feito o diagnóstico, complementa-se o mesmo com os exames auxiliares de diagnóstico que ajudem a detectar a origem das crises. Os mais importantes são a Tomografia Axial Computadorizada (TAC), a Ressonância Magnética Nuclear (RMN) e o Electroencefalograma (EEG). Os dois primeiros são úteis para se ver a estrutura do cérebro e podem detectar a presença de tumores, cicatrizes, quistos, malformações cerebrais, etc. Por outro lado, com o EEG obtém-se o registo da actividade eléctrica cerebral indicadora de uma possível excitabilidade do cérebro e a sua localização. Em certas ocasiões é necessário registar as crises epilépticas através de um circuito fechado de vídeo-EEG para se poder diagnosticar com segurança a epilepsia ou para se determinar o local do cérebro onde as crises se originam.
Prognóstico
Os doentes com epilepsia podem agrupar-se em quatro categorias prognósticas:
- Os que têm uma patologia leve que remite em pouco tempo.
- Os que têm crises que se controlam rapidamente com a medicação, sendo provável que remitam com o tempo.
- Os que padecem de crises epilépticas que só se controlam parcialmente com os actuais fármacos antiepilépticos, apresentando uma tendência contínua para recaídas.
- Os que padecem de crises epilépticas que, na sua maioria, não respondem aos tratamentos, sendo a remissão improvável. Este grupo inclui, aproximadamente, 30% de pessoas com epilepsia.
Tratamento da epilepsia
De um modo geral não se deve iniciar um tratamento crónico diário de nenhum doente que tenha sofrido uma crise epiléptica única ou isolada. Isto porque a probabilidade de que o paciente sofra uma segunda crise e evolua para uma epilepsia é de 50%. Aliás, o prognóstico a longo prazo da epilepsia não é diferente nos doentes em que se começa o tratamento após a primeira crise e nos que são tratados após a segunda crise.
Epilepsia e medicação
Hoje em dia há toda uma gama de medicamentos (antiepilépticos) para a epilepsia. Estes contrariam a actividade excessiva e descontrolada das células cerebrais. Apesar disto, ainda não é possível oferecer a todos os doentes uma vida sem crises. Para alguns a medicação não parece resultar, outros sofrem de efeitos colaterais ou de efeitos secundários intoleráveis. No entanto cada doente deve ser tratado com a medicação que for melhor para ele.
Hoje em dia há toda uma gama de medicamentos (antiepilépticos) para a epilepsia. Estes contrariam a actividade excessiva e descontrolada das células cerebrais. Apesar disto, ainda não é possível oferecer a todos os doentes uma vida sem crises. Para alguns a medicação não parece resultar, outros sofrem de efeitos colaterais ou de efeitos secundários intoleráveis. No entanto cada doente deve ser tratado com a medicação que for melhor para ele.
Alguns medicamentos antiepilépticos perdem a eficácia ao longo do tempo. O cérebro deixa de responder ao medicamento pois o doente torna-se "resistente". Habitualmente o médico decidirá a altura para mudar para outro medicamento.
Se nenhum deles é eficaz, a cirurgia pode, por vezes, ser uma solução para as crises focais.
Importância de tomar regularmente a medicação.
O esquecimento da medicação acarreta, como resultado imediato, uma descida dos níveis plasmáticos da mesma. Isto explica que o esquecimento, mesmo que de uma única toma, ou o abandono da medicação sejam as causas mais frequentes da recidiva das crises epilépticas (50%).
O esquecimento da medicação acarreta, como resultado imediato, uma descida dos níveis plasmáticos da mesma. Isto explica que o esquecimento, mesmo que de uma única toma, ou o abandono da medicação sejam as causas mais frequentes da recidiva das crises epilépticas (50%).
Quando ocorre o esquecimento de uma toma, deve proceder-se à mesma logo quando possível. Se o esquecimento englobar mais que uma dose deve consultar-se um médico que indicará o modo de repor o tratamento.
Para mais informação.
Se desejar mais informação sobre esta doença fale com o seu médico; pode ainda entrar em contacto com a Liga Portuguesa contra a Epilepsia (www.lpce.pt)
Se desejar mais informação sobre esta doença fale com o seu médico; pode ainda entrar em contacto com a Liga Portuguesa contra a Epilepsia (www.lpce.pt)
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